Somos duas amigas, nascidas no mesmo ano, mas em continentes diferentes, uma na terra do fado, outra na terra do samba, uma loira, outra morena, com um oceano pelo meio, mas que só fisicamente nos separa. Gostamos ambas de nos divertirmos e de coisas bonitas. Sim, vaidosas q.b.. As nossas intermináveis conversas com sotaques sobre quase tudo dão um blog. Porque ainda há muito a descobrir entre os dois países. E afinal não somos tão diferentes assim.



sábado, 12 de abril de 2014

O Brasil...


Berta:
Faz hoje uma semana que deixei o Brasil, mas só agora consigo algum fôlego para falar da aventura. Resumido: foi maravilhoso! Com todo o reboliço que implicou esta viagem, não cumpri tudo, tudo aquilo a que me tinha proposto (inclusive arranjar um namorado para a Tuca, mas participámos num pedido de namoro), mas andei lá perto!


A Tuquinha e a família foram uns anfitriões dos quais saí já com saudades, todos de um carinho e atenção tão gigantes, que nunca arranjarei forma de agradecer. Senti-me em casa, e deixei lá um lar.

A nível profissional aconteceram coisas estupendas, que espero agora desenvolver. Outras não correram tão bem, mas foi experiência.


Perguntam-me o que gostei mais, se de São Paulo ou do Rio... Definitivamente, das pessoas! Foi o que mais me marcou. Conheci gente tão bonita, fui tão bem tratada, não vou esquecer. Só peço que volte logo a rever! E no Rio de Janeiro conheci família! Uma tia-avó, irmã do avô que nunca conheci, e muitos primos! O meu avô morreu em África, e viajei eu da Europa para a América do Sul para encontrar parentes! Estivemos décadas sem notícias! Com um empurrãozinho, a vida reserva-nos tantas alegrias...! 



São Paulo é cidade, caos, mas gostei do centro, da avenida Paulista, do Ipiranga. Não tive aquele impacto pelos prédios, porque já vi maiores, mas tem uma agitação que me atraiu. Por causa da Copa (ou não) é uma cidade em obras. O trânsito é o horror. Acho que se os paulistas soubessem que no tempo que levam de um lugar para outro na cidade, tipo 3 horas, nós fazemos Porto - Lisboa, 300km, havia suicídio colectivo. Coitados, é vê-los a dormir em tudo o que é transporte público, de pé inclusive (houve um senhor que pensei que ia cair em cima de mim no metro, engano meu, ele tinha tudo sob controle, muita hora!). Apanhei alguns dias de chuva e fica tudo alagado em minutos, rios mesmo, o escoamento não funciona. Comparo o efeito a quando neva em Portugal, que fica tudo zonzo, parado. Lixinho em todo o lado também não é bonito de se ver, mas quem não tiver aquele hábito de guardar nos bolsos o lixo para depois depositar também é complicado, porque às vezes não se vêem papeleiras. Talvez o que mais me chocou: os paulistas terem medo de circular em certos pontos e momentos do dia. Ninguém havia de ser privado de viver em pleno os locais de que gosta. Felizmente não tive qualquer queixa, mas como estrangeira essa insegurança foi-me transmitida e, por exemplo, deixei de me sentir à vontade para circular com a janela dos carros aberta, depois de certa vez numa saída de meninas nos terem dado um grito, uma "cantada" na estrada, e eu por uma fracção de segundo pensar que era coisa pior. Outra a Tuca pediu-me para não falar, por causa do sotaque, porque não estava a gostar do ambiente... e eu como falo pelos cotovelos, custou-me. A propósito: nos primeiros dias fiquei rouca, penso que de tanto conversar! :-P Depois toda a gente sabe que os brasileiros gostam de toque, mas eu até achei que gostam mais de olhar e olham descaradamente. Então, a páginas tantas, uma pessoa não sabe se nos estão a tirar as medidas para ver se cabemos na bagageira. :-P Por outro lado, no metro todos usam telemóvel o tempo todo. Quase sempre as pessoas andam arranjadas, enfeitadas (isto para aqueles que diziam para eu não usar nem sequer bijoux). É assim uma dualidade de comportamentos... 


Coisas boas? Também há, claro, muitas! É gente muito mais animada, muito mais festeira, muito mais vaidosa, muito menos preconceituosa. E pessoas acima dos 65 anos e crianças com uniforme escolar não pagam transportes públicos (não sei se há excepções, salvaguardo já). E têm paisagens lindas, frutas lindas, pessoas lindas (menos lindas também :-P ). A gastronomia é potente, com uma miscelânea de influências. Os sumos / sucos são variadíssimos e hummmm! Eu não sou grande apreciadora de carne, mas achei a carne melhor, mais tenra. Paraíso também para quem gosta de feijão (mais rijo), arroz (o comum é mais branco que o nosso, é tipo o nosso Basmati). Não me pareceu malta muito adepta de batata. Eu já era e fiquei ainda mais fã da mandioca, vou tentar incluí-la de vez em quando aqui no menú. Os doces típicos também são muito bons, gostei das coisas à volta do fubá. Haviam petiscos portugueses também e comi Bolinhos de Bacalhau bem bons! Coxinhas também já provei bem boas em Portugal. Os famosos Pastéis não chegam aos pés de um bom Pastel de Chaves, mas é a opinião de quem é louca por Pastéis de Chaves! Falaram-me maravilhas das Esfihas e eu gostei, só. Vi incursões pela pastelaria portuguesa e um português não tem vontade de comer aquilo, pelo menos uma portuguesa que sabia que estava de volta daí a 3 semanas. Os Pastéis de Nata (Belém só os de Belém - Lisboa) que vi metiam dó, isto porque os ovos brasileiros são "anémicos", como eu lhes chamava, então os doces ficam com aquele aspecto triste, deslavado... Os nossos ovos comuns são conhecidos no Brasil como "ovos caipira". O bacalhau que comi lá fui eu que o levei (um tuga que nunca viajou com bacalhau a empestar a bagagem que atire a primeira pedra!), mas o nosso "fiel amigo" é vendido lá de uma maneira que eu nunca tinha visto, assim tipo embalado em postas rectangulares... não entendi muito bem. A Tuca também diz que o sabor não tem nada a ver com o nosso... não sei, só sei que o Escondidinho da D. Ester, mãe da Tuca, estava divino! O pessoal morre de amores por umas cadeias de churrasco americano, e eu não entendi o alarde... Juro que não sei como é que não se vendem lá, tipo fim do mundo, francesinhas!!! Tenho para mim que brasileiro iria muito nessa! E em bifanas também! Fica a dica. ;-) 



Compras... Trazer artigos made in Brazil achei vantajosa a oferta e o preço, mas a maioria... não é caro... é um absurdo, é um assalto! Há marcas estrangeiras que são o dobro ou triplo do que em Portugal. Minha rica "Zara" Portugal... Agora, há segmentos muito mais desenvolvidos do que cá. O mundo dos pet shops é incrível. Serviços de beleza também. O mercado da diversão, festas, idem.


O Rio de Janeiro é lindo, sim! A paisagem do Pão de Açúcar é única, de cortar a respiração. Ainda mais bonita que a do Cristo Redentor! O Cristo perdeu alguma beleza por ser um aglomerado quase impossível de pessoas lá em cima, mas é mítico. Copacabana, Ipanema... não me batam, é lindo sim, mas eu acho que o que lhes confere beleza é aquela combinação de praia e morros, ou é aquela ideia de que as pessoas é que fazem um lugar... Fez-me lembrar algumas cidades de praia portuguesas, só que com morros altíssimos e exóticos à volta. Aqui temos a versão ravinas. Não achei aquele Atlântico nada de extraordinário, não me cobiçou o mergulho, pelo menos ali (parece que em Búzios, Angra, etc. é outra conversa). O "calçadão" é bonito, mas também temos em ponto mais pequeno, mas também somos menos. Provavelmente não é razoável comparar, mas uma Vilamoura, um Estoril não hão-de ficar muito atrás, só que pronto... sem os morros e o Cristo. :-P É... fazem diferença! Tal como o de São Paulo, o Teatro Municipal do Rio de Janeiro também é belíssimo, bem como o Palácio de Guanabara, linda arquitectura colonial! A Marina da Glória, a Lagoa Rodrigues de Freitas também cenários fabulosos! 



Perguntaram-me algumas vezes algo que me fazia hesitar na resposta: se eu achava que conseguiria viver no Brasil... Por mais que eu tenha adorado, acho que adoro de passagem. Acima de tudo, porque considero que tenho perfil de pessoa passível a ser assaltada, assunto que não vou explorar, porque quero voltar :-P. Depois, porque há uma divisão de classes que me faz uma certa comichão. Vi situações que me fizeram pensar que mesmo que tivesse assim tanto dinheiro não quereria aquilo para mim, só por uma questão de status... mas pronto se calhar tem mais a ver com a personalidade de cada um do que com o lugar, não sei. Também não viveria no Brasil por causa do trânsito. É muito e conduz-se mal. Em Portugal morre gente por conduzir em excesso de velocidade. Tuga faz da estrada a sua pista. Tuga no Brasil tem filas, bué filas, tuga deprime-se, tuga morre. Ou então morre com um daqueles motoqueiros fura-filas-sempre-pi-pi-pi em cima, salvo seja (eles sabem que é perigoso, não sabem?).


De qualquer forma, o Brasil foi aquele país de onde saí com vontade de voltar logo, o país onde cimentei amizades, de onde trouxe mais ideias e conhecimento, conheci família, e que proporcionou surpresas como um cabeleireiro ao acaso no Rio de Janeiro, apaixonado por Lisboa, que me cantou um fado e recitou um poema do José Régio do princípio ao fim. Mais em casa fora de casa seria difícil... 

  

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