Somos duas amigas, nascidas no mesmo ano, mas em continentes diferentes, uma na terra do fado, outra na terra do samba, uma loira, outra morena, com um oceano pelo meio, mas que só fisicamente nos separa. Gostamos ambas de nos divertirmos e de coisas bonitas. Sim, vaidosas q.b.. As nossas intermináveis conversas com sotaques sobre quase tudo dão um blog. Porque ainda há muito a descobrir entre os dois países. E afinal não somos tão diferentes assim.



quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Por São Miguel (finalmente!)

Berta:
São Miguel vai fazer parte do meu melhor de 2017, quiçá de alguns anos mais. Até pode ser que entretanto volte a esta e/ou outras ilhas. Que lugar absolutamente mágico, tão quebra-rotinas! Todo aquele verde tão extenso, inebriante, inspirador! À sua espera, ao descer a ilha, está provavelmente uma pequena povoação, com as suas gentes afáveis, de sotaque cerrado principalmente entre elas. E o mar. Aquele mar sempre tão maravilhoso das ilhas, em que o horizonte se confunde com o céu.

Os Açores são natureza pura. Não digo em estado selvagem, porque ela é extremamente cuidada, mas o turista usufrui da sua máxima proximidade.


E o que dizer de experiências tão diferentes como as fumarolas, sentir o calor das profundezas da terra, quer na confecção do cozido típico, quer nos relaxantes e imperdíveis banhos férreos a beirar os 40ºC, em que quase caímos na tentação de nos deixarmos adormecer!

A Visit Azores gentilmente ofereceu-nos a possibilidade (mais uma vez a Tuca não pode aproveitar, snif, snif!) de visitarmos dois desses recintos adaptados na natureza para banhos quentes. O parque Caldeira Velha foi o que eu achei mais exótico. No primeiro impacto, para uma menina da cidade como eu, talvez demasiado exótico 😅, mas os receios do musgo, do chão dos lagos, das rãs, rastejantes em geral 🐸  foram-se dissipando para dar lugar à aventura e a sensações altamente recomendáveis naquele borbulhar das águas. O problema é mesmo sair!


Também com a Visit Azores fomos à famosa Poça da Dona Beija. O espaço é composto por vários tanques, todos de água quentinha (o último com temperatura um pouco mais baixa, mais perto da nascente), cada um com os seus atractivos: repuxos, jactos, orientações diferentes. Vale a pena passar largos minutos em cada um, presos aos nossos pensamentos, ou em conversa. Sim, pelo que percebi, os açoreanos usam os banhos como forma de convívio, como ir ali tomar um café. Está aberto inclusive à noite. Muuuuito giro! Os balneários permitem um duche (porque saímos a cheirar a ferrugem e eu fiz uma máscara bem laranja 😋 ), troca de roupa, as condições básicas. A loja do Dona Beija, aviso já, é das que tem dos souvenirs mais engraçados que vi na ilha. Diga-se de passagem que comércio não é o ponto forte de São Miguel, não esperem encontrar lembranças giras em cada esquina, mesmo em Ponta Delgada. Não vão filados em shoppings, caso contrário vão-se desapontar. Tem um ou dois...


Os Açores requerem uma adaptação a um modo de vida mais rural, calmo e contemplativo. As lojas não estão abertas até tão tarde (postos de abastecimento incluídos, nós agora sabemos! 😅 ), a variedade também não é a que estamos acostumados, e é mais seguro reservar os restaurantes, porque a oferta não é tanta assim. Mas aí é que reside a graça da ilha. Só ultrapassada pelas espectaculares paisagens a cada curva e contracurva, ladeados por quilómetros e quilómetros de hortênsias, pastos com as suas vaquinhas "felizes", florestas imaculadamente ordenadas, lagos espelhados, verde, verde, verde! 


Fui com a ideia de encontrar a Capela de Nossa Senhora das Vitórias, porque tinha visto umas imagens lindas. Já na ilha é que me apercebi que ficava em plena Lagoa das Furnas. Escapam-me as palavras para descrever o que senti no primeiro impacto, parecia entrada directamente numa fábula! Que cenário deslumbrante! As Furnas foram definitivamente a minha região favorita da ilha. 
Também nas Furnas está o Parque Terra Nostra, que engloba um hotel boutique premiado, os mais bonitos jardins que vi na vida, e também um enorme lago para banhos férreos. Aqui não fomos a banhos, por uma questão de logística familiar, pois os jardins ocuparam-nos todo o tempo que tínhamos previsto. Incríveis, incríveis! Magnificamente bem preservados, com imensa diversidade de espécies, tranquilos, com uma vasta área para explorar, tocar, cheirar no maior respeito pela majestosa obra iniciada por Thomas Hickling, comerciante norte-americano que se estabeleceu ilha.

Se nos quisermos afastar dos parques, dos circuitos mais turísticos, a ilha e os seus inúmeros trilhos estão à disposição! Haja fôlego! Lagoas encantadas, cascatas (saltos), miradouros aguardam-nos como recompensa de percursos de alguns quilómetros (uns mais outros menos). Com dois filhos pequenos, não pudemos entrar em grandes aventuras, mas ainda fomos ao Salto do Cabrito pelo caminho da hidroeléctrica desactivada, e andar nas alturas por cima daquelas condutas já foi q.b..


Falar de São Miguel sem dedicar uma parte às suas lagoas não pode ser. As Sete Cidades são postal sobejamente conhecido! Arriscámos subir ao hotel abandonado e é mesmo uma vista digna de rei! O miradouro da Grota do Inferno e todo o trajecto até lá chegar também são obrigatórios. Uma varanda perfeita para várias lagoas, entre as quais a Verde e a Azul, montanhas e mar. Não conseguimos de todo visitar todas, tivemos de deixar as de mais difícil acesso para uma próxima, mas tenho uma favorita e se calhar não é tão óbvia: a Lagoa do Fogo. Talvez seja por só a ter conseguido vislumbrar à segunda tentativa (da primeira estava totalmente coberta pelo nevoeiro) e depois ela surgiu-me assim como um correr lento de cortinas diante dos meus olhos! Fui aos pouquinhos conseguindo perceber como era enorme, estava tão funda, os recortes, a grande floresta como margem, o trilho de descida... magia! E sim, continuo com medo de alturas 😩 , mas vou lidando, procurando encontrar um cantinho só para mim. Também gostei muito das Lagoas Empadadas, porque as fui procurar sozinha, e aproveitei aquela concentração de verde tão intensa como momento de reflexão, detox, energia pura!


Os Açores também são festim gastronómico! Bom leite, bom queijinho, queijadas deliciosas, o tradicional cozido, carne tenra, peixe fresquíssimo, o ananás, o inhame que não conhecia, e até para ajudar na digestão como convém, os chás! Embora não sendo apreciadora do prato, o cozido é todo um ritual que vale a pena assistir (os pequeninos adoraram o levantamento das panelas) e provar, nem que seja pela experiência. O travo de enxofre pode condicionar, mas é totalmente característico. O bife da Associação Agrícola é um ex libris e eu, que raramente como carnes vermelhas, não resisti. Pedi com molho de queijo da ilha, qualquer coisa de bom! Aliás, eu sou doida por queijo da ilha de São Jorge! Como até o meu fígado dar sinal! 💣 Outra descoberta que as minhas papilas gustativas agradeceram foram as queijadas de Vila Franca do Campo, ai que coisa boa que se desfaz na boca! Encontrei semelhanças com a textura dos brasileiros bem-casados. Entrada directa para o top dos meus bolos nacionais favoritos! Estivemos hospedados nos charmosos Apartamentos da Galé (com cozinha totalmente equipada, dá muito jeito), na freguesia da Caloura, e em conversa com um dos proprietários calhei de falar nos docinhos e, quando voltamos, tiveram a delicadeza de nos deixar uma caixinha que tivemos de dar sumiço em todos os pequenos-almoços restantes! Também sou apreciadora do bolo lêvedo, parecido com o bolo da outra ilha, que vocês sabem qual, mas ouvi dizer que não gostam de comparações. 😏  As cracas tão boas também são parecidas com as lapas da outra ilha. Recomendo no Botequim Açoriano. Provei também umas queijadas de inhame óptimas, originais do restaurante Caldeiras e Vulcões. A qualidade do ananás da ilha já é altamente reconhecida e nós mais uma vez comprovámos! Fomos conhecer também as plantações dos chás da Gorreana e aproveitamos para satisfazer algumas encomendas, juntar o útil ao agradável.


Ponta Delgada é a maior cidade do arquipélago e encanta pelo seu aspecto pitoresco e arquitectura colonial em pedra vulcânica. O Senhor Santo Cristo é santo de grande devoção dos açorianos.

Por falar em pedra vulcânica, embora sejam bastante procuradas para a prática de surf, as praias de areia preta e grossa não me seduzem. Já o azul do mar... que contraste bonito! Para outra oportunidade ficam os passeios para observação de baleias e golfinhos. 

Recomenda-se sempre também protecções leves para a chuva, que volta e meia aparece, mesmo quando não está prevista! 😅 

Por todas estas e mais algumas razões que sempre escapam, São Miguel e o seu recato e esplendor natural deixam muita vontade de voltar, coisa que quero fazer e estender a visita a outras ilhas... Fiquei com muita vontade de conhecer a Terceira e as Flores... 

O nosso agradecimento à Visit Azores pela disponibildade e ofertas!
Visitem mesmo os Açores e acho que se apaixonarão 9 vezes!

Sem comentários:

Enviar um comentário