Somos duas amigas, nascidas no mesmo ano, mas em continentes diferentes, uma na terra do fado, outra na terra do samba, uma loira, outra morena, com um oceano pelo meio, mas que só fisicamente nos separa. Gostamos ambas de nos divertirmos e de coisas bonitas. Sim, vaidosas q.b.. As nossas intermináveis conversas com sotaques sobre quase tudo dão um blog. Porque ainda há muito a descobrir entre os dois países. E afinal não somos tão diferentes assim.



quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Mudar-se para Portugal

Berta:
Hoje trago um assunto pertinente, que acho que pode interessar a muitos.

Salvaguardo desde já que é sob o meu ponto de vista, do feedback que vou tendo de conhecidos que se mudaram para Portugal. Já se sabe que cada caso será um caso. O factor sorte / determinação tem a sua influência.


Vamos lá...

À conta do blog, muitos amigos brasileiros pedem-me opinião sobre mudarem-se para Portugal. É um assunto sobre o qual não gosto muito de me pronunciar, porque é algo tão importante na vida de uma pessoa, que não quero ter qualquer responsabilidade. Ajudo sim no que posso e sei, agora dizer "Vem, é melhor!" não digo. Em última instância, digo que todos temos a nossa intuição, sabemos do que somos capazes para alcançar os nossos sonhos, do que estamos dispostos a deixar para trás por eles.

A queixa de quem quer sair do Brasil é sempre a mesma: falta de segurança. As pessoas têm medo de criar os seus filhos no Brasil. É muito triste, mas é o que mais ouço. Depois falam da fraca qualidade dos serviços públicos, principalmente da educação e da saúde. Já diz a canção que "ninguém sai de onde tem paz".

Esta será a segunda vaga de imigração brasileira de que me lembro. A primeira ocorreu nos primeiros anos deste século, e terá retornado em grande parte ao Brasil quando a crise se abateu sobre Portugal. Encontrávamos muitos trabalhadores brasileiros no sector terciário, principalmente restauração. Íamos aos shoppings e éramos quase sempre atendidos por brasileiros. Noto que esta leva de imigrantes é mais qualificada, muitos quadros técnicos superiores. Obviamente também muitos, menos letrados, tentando a sua sorte. E esses, quanto a mim, são os que causam mais preocupação.

Muito sinceramente não sei responder se tem emprego para todos ou não. Os dados do desemprego têm vindo a descer, mas é sempre uma questão sensível. Costumo dizer que Portugal é um país de velhinhos, por isso actividades relacionadas com cuidados e serviços à terceira idade devem ter saída. O Brasil também tem um know-how muito elevado em marketing e audiovisuais, que pode ser interessante aqui. Embora a área da beleza e cuidados pessoais esteja bem lotada, algumas técnicas usadas no Brasil podem ser consideradas novidade. Há que ter em conta também negócios de brasileiros para brasileiros, porque a população residente é cada vez maior e há a saudade da comidinha de casa, da musiquinha, das festas... Trabalhos com um nível de exigência de qualificação menor, como serviços domésticos, também podem ser uma alternativa, mas em Portugal, como acontece por essa Europa fora, estamos acostumados a fazer as lides de casa sem ajuda externa, pelo menos não a tempo inteiro.   

Em fóruns em que às vezes navego por curiosidade vejo levantarem frequentemente o medo da discriminação. Ela existe, não vou mentir, em qualquer lado existe, mas não assume graus preocupantes, na minha opinião. Se a pessoa vier com boa fé, vontade de trabalhar, crescer sem prejudicar, vai fazendo com que aquele estereótipo do brasileiro malandro e da brasileira "mulher da vida" vá desaparecendo. E ele tem vindo a desaparecer felizmente. Aliás, duvido que algum outro país receba os brasileiros como Portugal ou tenha tantas referências idênticas. A mesma Língua é logo uma vantagem, se bem que, como mostramos na nossa rubrica, hajam diferenças! E é muito provável que vos percebamos melhor que vocês brasileiros a nós, porque estamos acostumados a ouvir muito o sotaque, basta pelas telenovelas.

Todavia, não é uma vida de facilidades, pelo menos inicialmente, eu creio. Então se pensam ficar na ilegalidade, desistam da ideia de vir, porque para tudo é necessário papelada. Para arranjar um trabalho, alugar uma casa, pedem logo documentos. E há fiscalização. E funciona. Com a crise de refugiados, a malha é apertada. No fundo, é uma segurança para ambas as partes. 

Há também o clima, que é bem desafiante no Inverno. É um frio chato que entranha. 😥 Outra coisa é que os portugueses geralmente são afáveis, mas não contem que convidem lá para casa num primeiro encontro. Não somos tão "dados", com todo o respeito. Temos um "gelinho" que só com alguma confiança é quebrado. E voltamos a falar do frio... 

Por fim, aconselho antes de virem a fazerem trabalho de casa. Pesquisem muuuuito, conversem muito, venham já com uma ideia definida de onde ficar, cidade, alojamento, emprego em vista, ou melhor que tudo uma promessa de trabalho mesmo. Procurem grupos, associações, existem muitos, recolham opiniões. É mesmo MUITO IMPORTANTE: não venham "às cegas", despreparados, sem uma "almofada" financeira, porque os primeiros tempos serão com certeza de muitos gastos e poucos ganhos, de muita, muita adaptação, talvez um passo à frente para dois atrás. Imagino que quase um mundo novo! Tudo será muito mais fácil se souberem mais ou menos o que vão encontrar pela frente. Já que imprevistos ocorrerão sempre!

Se mesmo analisando os prós e os contras quiserem muito Portugal como a vossa próxima casa, não percam o entusiasmo, somos um bom país mesmo! Pequeno, tranquilo, charmoso, acolhedor. Então... BOA SORTE!!! Com humildade, perseverança, há-de DAR CERTO!

Espero de alguma forma ter contribuído para vos guiar nesta jornada.

"de cá e de lá" gostávamos muito também de saber das vossas histórias. Se estão a pensar vir, se já vieram, se já vieram e voltaram... Acho que todos ganhamos com uma partilha respeitosa.

Para ficarem a saber mais dos dois países neste intercâmbio entre duas amigas, sigam-nos aqui no blog e nas nossas outras redes sociais:
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Beijinho luso-brasileiro!

6 comentários:

  1. Temos uma coisa em comum uma amizade com a Tuquinha e no final do ano passado minha esposa ficou nas mãos de marginais amarrada por quase 2 horas e desde então temos a ideia de irmos mo

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    1. Olá! Lamento muito o caso da sua esposa, deve ser um susto de morte mesmo. Que pena...

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  2. Texto incrivelmente esclarecedor. Parabéns por se dedicar em deixar clara todas as situações que podem surgir com decisões precipitadas>

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    1. Obrigada! Foi mesmo essa a intenção! Alertar para as situações, mas sem desanimar, porque pode ser bom mesmo! Volte sempre!

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  3. Amei o texto se eu já queria ir agora quero mais ainda trabalho como cabeleireiro no Brasil mais creio eu que poço crecer mais fora daqui pois sou muito bom no que faço é tenho todas características que foram citada no texto sobre os portugueses.

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