Somos duas amigas, nascidas no mesmo ano, mas em continentes diferentes, uma na terra do fado, outra na terra do samba, uma loira, outra morena, com um oceano pelo meio, mas que só fisicamente nos separa. Gostamos ambas de nos divertirmos e de coisas bonitas. Sim, vaidosas q.b.. As nossas intermináveis conversas com sotaques sobre quase tudo dão um blog. Porque ainda há muito a descobrir entre os dois países. E afinal não somos tão diferentes assim.



sábado, 23 de novembro de 2013

Sou mamã há 7 anos!

Berta:


Dia muuuuito especial para mim, o MAIS ESPECIAL de todos! Há 7 anos tornava-me MÃE!

A propósito vou contar um pouco sobre como é nascer em Portugal. A Tuca ainda não é mamã, mas com certeza, com o depoimento de algumas amigas, poderá corrigir-me sobre as diferenças que poderão existir no Brasil.

O meu filho nasceu num hospital público. Aqui na globalidade as maternidades públicas são boas. Inclusive, em algumas situações graves, alguns bebés nascidos em estabelecimentos privados, são transferidos para unidades públicas para tratamento, pois tendem a estar melhor equipadas. 
Tem havido uma cada vez maior consciencialização para evitar a dor no parto, porque há décadas atrás parir era sofrer e acabou. Por outro lado, também vai havendo maior sensibilidade para partos com menos ou mesmo nenhuma intervenção hospitalar. No entanto, tenho ideia que neste âmbito o Brasil está muito mais avançado. Vi há uns tempos uma reportagem sobre "casas de parto", aqui não há nada disso. Existem sim as doulas, que acompanham o parto em casa ou no hospital.

Voltando ao meu parto em particular: já tive "direito" a epidural (e eu queria mesmo epidural). Alguns anos antes era um "luxo" dos privados. Foi parto normal, embora induzido, porque eu já andava barriguda de mais de 40 semanas, toda eu era diâmetro! O pai assistiu (e muito bem!), cortou o cordão, o figurino todo, o que também era um "luxo" recente. Em décadas anteriores, os pais estavam excluídos dos blocos de parto. Ficavam a fazer desaparecer tabaco lá fora. Ainda hoje os pais não assistem a partos por cesariana nos hospitais públicos, apenas nos privados. A minha médica afiançava que já tinha visto vários a partir o nariz nas quedas.  

Não sei se bem ou mal, mas fizemos criopreservação das células estaminais, mas por nossa conta.

A parte chata de se ter filhos num hospital público: o internamento. Eu tive o meu filho numa sala de partos só minha (há uns anos atrás, acho que podiam ser várias mães!), tinha a minha privacidade, mas no internamento somos levadas para enfermarias que podem ter 3, 6... 9 camas... Nove mães... nove (ou mais) bebés...! Imaginem o coro de Santo Amaro de Oeiras em versão recém-nascido... e sem ensaios! E 'last but not least': os pais não podem ficar connosco durante a noite. A nós mães dava um jeitaço ter um back-up e acho que, na maioria, eles ficam preocupados e ansiosos em casa (se bem que há os que vão para a night celebrar, já ouvi falar). Não tenho razão de queixa das minhas companheiras de quarto, como eram as duas mães de segunda viagem, ajudaram-me muito até (apesar de uma ser fã de Tony Carreira :-P ), mas como fiquei 5 dias internada, já vomitava hospital, só queria a minha casa, o meu barulho, os meus horários. 

Um hospital privado aproxima-se muito de um hotel. O pai / acompanhante fica o tempo que quiser, e o número e frequência das visitas não é restringido. Não quer dizer que seja melhor... Nos públicos temos tudo o que é preciso, tudo mesmo, mas é um serviço básico, menos vocacionado para o conforto. Pode acontecer inclusive passarmos horas num corredor. Assistidas, mas num corredor.

A amamentação é amplamente incentivada desde a hora em que os bebés nascem. Pedem-nos que amamentemos em exclusivo por 6 meses. Eu consegui, mas duvido que quem regresse ao trabalho aos 4-5 meses (tempo da licença de maternidade) consiga. Em qualquer caso, amamentar exige muita dedicação e perseverança, tendo um horário rígido só quase sendo super-mulher.

A ideia do que acho que se passa no Brasil é que vocês têm toda uma indústria ligada ao nascimento. "Chás de bebé", fotos, filme, lembrancinhas... aqui não se faz. A primeira fotografia que eu tenho do meu filho é de um telemóvel / celular e confesso que nunca quereria que me filmassem a dar à luz. Aliás, que susto eu apanhei quando me vi ao espelho! É um momento LINDO da vida de uma mulher, mas eu senti-me também toda mexida, suja, suada. Acho que é uma coisa íntima... Nada contra os filmes, fotografias, já vi registos lindos, mas é a minha opinião. Além de que, para além do pessoal médico e auxiliar, só entra um acompanhante, por isso nem sequer se põe a questão da presença de fotógrafo e companhia.

As lembrancinhas, fotografias bonitas, vídeos "oficiais" geralmente acontecem com a celebração religiosa do baptizado.

Aqui também não há o "culto" das "babás", só se for em extractos sociais mesmo muito altos, mas do que conheço não são comuns. Geralmente vêm as nossas mães dar uma assistência, quando podem, nas primeiras semanas, depois uma amiga hoje, outra amanhã e assim vai. Os filhos são nossos parece-me natural sermos nós a cuidar deles. E dos leites, e das fraldas, e das papas voadoras, e dos vomitados... :-P Claro que uma ajuda nas tarefas domésticas é super bem-vinda e isso sim existe em várias casas. Agora uma pessoa especificamente só para cuidar dos filhos não temos actualmente esse costume. Há sim a figura da ama, em alternativa à creche, mas aparece quando voltamos ao trabalho. 

E é assim mais ou menos que a experiência da recém-maternidade se passa em Portugal. Acho que sobre este assunto, a Tuca quando puder há-de ter muito mais a acrescentar do "lado de lá".

Agora, para rir (ou chorar) um pouco...


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