Somos duas amigas, nascidas no mesmo ano, mas em continentes diferentes, uma na terra do fado, outra na terra do samba, uma loira, outra morena, com um oceano pelo meio, mas que só fisicamente nos separa. Gostamos ambas de nos divertirmos e de coisas bonitas. Sim, vaidosas q.b.. As nossas intermináveis conversas com sotaques sobre quase tudo dão um blog. Porque ainda há muito a descobrir entre os dois países. E afinal não somos tão diferentes assim.



quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Nós, os tugas


Berta:
Passou-me pela cabeça que seria uma boa ideia falar um bocadinho do que é ser "tuga". Sim, eu sei que no Brasil os portugueses são chamados de “portugas”, mas nós não precisamos do “por” para nada, chamamos-nos só “tugas”. É mais fofinho e enrola-se menos a língua. 
Claro que nem todos os portugueses se identificarão, confesso que também não preencho todos os requisitos (e vão ver que isso é bom), aqui não vou fugir dos estereótipos, mas uma coisa ou outra - sejam sinceros - está lá.

Depois quero ver aí os comentários. Perguntem, acrescentem coisas, desdenhem! É bem tuga mesmo desdenhar para depois comprar! ;-) 

Então vamos lá!
  • Passamos a vida a dizer que o país é uma caca, mas um estrangeiro não pode dizer que o país é uma caca. Evitam-se problemas.
  • Quando compramos um carro, a primeira viagem é a Fátima para o benzer. As chaves de casa também. E trazemos uma imagem para colar no tablier. 
  • O mais pacífico dos tugas vira um neandertal ao volante. A caminho de Fátima também.
  • O verdadeiro tuga não usa GPS (mariquices). Chegamos lá nem que seja por um trilho romano a demorar mais 3 horas. E gabamos-nos disso.
  • Um tuga desenrasca-se. A solução é temporária, mas na hora fica mais ou menos resolvido. Quando voltar a cair, vamos lá outra vez.
  • Temos atracção pela tragédia. Diz-se que se o World Trade Center tivesse caído cá a deslocação das pessoas teria sido para as torres e não a fugir delas. Deve ser por causa disso que não nos deixam construir arranha-céus.
  • Somos solidários. A situação sendo má (mas tem de ser mesmo má, não mais ou menos má), juntamo-nos e deitamos a mão. 
  • Um tuga gosta de andar em grupo. Então quando chegamos a um lugar damos por nós a procurar por outros tugas. E geralmente encontramos.
  • As nossas mãezinhas são praticamente santas. Ninguém ouse tocar nas nossas mãezinhas.
  • Gostamos de terra, de chão. Não são raros os casos de alguém levar com uma ferramenta agrícola na cabeça por meia dúzia de metros quadrados de terra. Entre irmãos... 
  • Também gostamos de mar. De nos enfiarmos em coisas moderadamente estanques e ir por aí fora. Já ouvi histórias de portugueses que moram longe do mar e sofrem por isso. 
  • Comemos muito e bem. Sentimos falta de coisas como sopa no estrangeiro.
  • A acompanhar a comida... vinho. Quase qualquer um desde que seja cheio.
  • Coisas grátis! O que um tuga gosta de borlas! Pode não servir para nada, às vezes nem sabemos o que é, mas se é grátis ter isso é uma missão! 
  • Temos empregados, mas a páginas tantas somos nós que estamos a fazer as coisas. Ninguém faz nada como nós. A tal cena do “Portuguese do it better”. 
  • O país fundou-se porque um jovem não gostou de ver a santa mãezinha envolvida com um senhor de outra terra e então declarou-lhe guerra. Parecendo que não, isso explica muita coisa. 
  • O jovem Henriques, Afonso Henriques, entusiasmou-se então com a conquista do quintal da mãe e foi por aí abaixo. Ao deparar-se com os muçulmanos, achou que eles estavam melhor no norte de África, onde o clima era mais ameno, e mostrou-lhes o caminho. 
  • Séculos mais tarde, um outro monarca fez o mesmo caminho, mas ficou por lá. Ainda estamos à espera que ele regresse num dia de nevoeiro. 
  • Temos saudades. Do que já passou, do que se passa, e do que se irá passar. O tal chamamento para a tragédia. Vai daí até o cantamos. Chama-se Fado
  • Sentimos culpa por estar alegres. Estar tristes podemos, ‘tadinhos, mas estar alegre é tonto. Ou bêbado.
  • Somos também um bocadinho invejosos. O meu Mercedes é maior que o teu.
  • Gostamos de receber, mas também gostamos de ouvir obrigado. À vontade, mas não à vontadinha. 
  • Aqui às vezes as pessoas insultarem-se pode ser demonstração de carinho. Depende da maneira como se insulta... 
  • Alguém que ludibria o sistema é um herói. Mesmo que no fundo isso represente ir contra o bem comum. 
  • Na afirmação anterior não está incluída a classe política. Esses são todos uns filhos de uma meretriz, apesar de serem portugueses elegidos por portugueses. 
  • Ser muito bonito só é apreciável em criança. Depois se somos uns adultos vaidosos somos fúteis. 
  • Somos mórbidos. Sarcásticos. Rimo-nos da desgraça alheia, mas da nossa também. Piadas sobre a fome em África? Já fizemos. Em horário nobre. 
  • Gostamos de preto. Já casámos de preto. Porque preto é luto, então é bonito. Isso de usar muitas cores é um bocado gay.
  • Ah, mas no Minho o traje é vermelho e há o galo de Barcelos com desenhos garridos... ! Devem ser influências da Galiza, um dia vamos acabar com isso.
  • Ah, mas em Miranda os homens usam saias com desenhos garridos...! Devem ser influências dos celtas, um dia também vamos acabar com isso. 
  • Ao contrário da tourada espanhola, nós não matamos o touro na arena, só o espetamos e mandamo-lo para o matadouro. Já devíamos ter acabado com isso. 
  • Podemos ser casadas, mães de filhos, mas se tivermos uma carinha laroca seremos sempre meninas.
  • A mulher quer-se pequenina como a sardinha. Mas as suecas também são muito apreciadas. 
  • Nós portuguesas temos fama de sermos feias, mas somos vingativas, portanto temos a situação controlada. Claro que temos. 
  • Temos noção que quando nos unimos fazemos coisas giras, mas amanhã tratamos disso. 
  • O que é mesmo, mesmo, mesmo, mesmo bom não é para mostrar. Guarda-se, mete-se debaixo do colchão. Às vezes acontece é que depois vai-se a ver e já se estragou ou já não presta.
  • O país é pequeno, mas há rivalidades cá dentro. E sotaques. E gente esquisita. 
  • O mundo não nos dá o devido valor... Ah! Espera lá! Nós também não!
  • Esta é mesmo verdade! Conversa de portugueses acaba sempre em mer... caca! Demore o tempo que demorar, é deixar fluir que vai lá dar!
  • O país é um caca. Mas quando estamos fora é a caca mais linda que existe!

4 comentários:

  1. Eu sou esta tuga "Coisas grátis! O que um tuga gosta de borlas! Pode não servir para nada, às vezes nem sabemos o que é, mas se é grátis ter isso é uma missão!"

    Na tua extensa lista faltou a referência ao bacalhau! Festa de tuga que é festa tem de ter "bolinhos de bacalau"

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  2. Berta, adorei o texto. Não sou portuguesa, mas já vos conheço muito bem, há 13 anos que aqui fui acolhida, e já começo a me identificar com alguma destas coisas de tugas ;)
    São um povo adorável :)

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  3. IsleiArtes, obrigada! 13 anos já é muito tempo! De certeza que já não temos grandes segredos para si... ;-)
    Beijinho!

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