Berta:
Passou-me pela cabeça que seria uma boa ideia falar um bocadinho do que é ser "tuga". Sim, eu sei que no Brasil os portugueses são chamados de “portugas”, mas nós não precisamos do “por” para nada, chamamos-nos só “tugas”. É mais fofinho e enrola-se menos a língua.
Claro que nem todos os portugueses se identificarão, confesso que também não preencho todos os requisitos (e vão ver que isso é bom), aqui não vou fugir dos estereótipos, mas uma coisa ou outra - sejam sinceros - está lá.
Depois quero ver aí os comentários. Perguntem, acrescentem coisas, desdenhem! É bem tuga mesmo desdenhar para depois comprar! ;-)
Então vamos lá!
- Passamos a vida a dizer que o país é uma caca, mas um estrangeiro não pode dizer que o país é uma caca. Evitam-se problemas.
- Quando compramos um carro, a primeira viagem é a Fátima para o benzer. As chaves de casa também. E trazemos uma imagem para colar no tablier.
- O mais pacífico dos tugas vira um neandertal ao volante. A caminho de Fátima também.
- O verdadeiro tuga não usa GPS (mariquices). Chegamos lá nem que seja por um trilho romano a demorar mais 3 horas. E gabamos-nos disso.
- Um tuga desenrasca-se. A solução é temporária, mas na hora fica mais ou menos resolvido. Quando voltar a cair, vamos lá outra vez.
- Temos atracção pela tragédia. Diz-se que se o World Trade Center tivesse caído cá a deslocação das pessoas teria sido para as torres e não a fugir delas. Deve ser por causa disso que não nos deixam construir arranha-céus.
- Somos solidários. A situação sendo má (mas tem de ser mesmo má, não mais ou menos má), juntamo-nos e deitamos a mão.
- Um tuga gosta de andar em grupo. Então quando chegamos a um lugar damos por nós a procurar por outros tugas. E geralmente encontramos.
- As nossas mãezinhas são praticamente santas. Ninguém ouse tocar nas nossas mãezinhas.
- Gostamos de terra, de chão. Não são raros os casos de alguém levar com uma ferramenta agrícola na cabeça por meia dúzia de metros quadrados de terra. Entre irmãos...
- Também gostamos de mar. De nos enfiarmos em coisas moderadamente estanques e ir por aí fora. Já ouvi histórias de portugueses que moram longe do mar e sofrem por isso.
- Comemos muito e bem. Sentimos falta de coisas como sopa no estrangeiro.
- A acompanhar a comida... vinho. Quase qualquer um desde que seja cheio.
- Coisas grátis! O que um tuga gosta de borlas! Pode não servir para nada, às vezes nem sabemos o que é, mas se é grátis ter isso é uma missão!
- Temos empregados, mas a páginas tantas somos nós que estamos a fazer as coisas. Ninguém faz nada como nós. A tal cena do “Portuguese do it better”.
- O país fundou-se porque um jovem não gostou de ver a santa mãezinha envolvida com um senhor de outra terra e então declarou-lhe guerra. Parecendo que não, isso explica muita coisa.
- O jovem Henriques, Afonso Henriques, entusiasmou-se então com a conquista do quintal da mãe e foi por aí abaixo. Ao deparar-se com os muçulmanos, achou que eles estavam melhor no norte de África, onde o clima era mais ameno, e mostrou-lhes o caminho.
- Séculos mais tarde, um outro monarca fez o mesmo caminho, mas ficou por lá. Ainda estamos à espera que ele regresse num dia de nevoeiro.
- Temos saudades. Do que já passou, do que se passa, e do que se irá passar. O tal chamamento para a tragédia. Vai daí até o cantamos. Chama-se Fado.
- Sentimos culpa por estar alegres. Estar tristes podemos, ‘tadinhos, mas estar alegre é tonto. Ou bêbado.
- Somos também um bocadinho invejosos. O meu Mercedes é maior que o teu.
- Gostamos de receber, mas também gostamos de ouvir obrigado. À vontade, mas não à vontadinha.
- Aqui às vezes as pessoas insultarem-se pode ser demonstração de carinho. Depende da maneira como se insulta...
- Alguém que ludibria o sistema é um herói. Mesmo que no fundo isso represente ir contra o bem comum.
- Na afirmação anterior não está incluída a classe política. Esses são todos uns filhos de uma meretriz, apesar de serem portugueses elegidos por portugueses.
- Ser muito bonito só é apreciável em criança. Depois se somos uns adultos vaidosos somos fúteis.
- Somos mórbidos. Sarcásticos. Rimo-nos da desgraça alheia, mas da nossa também. Piadas sobre a fome em África? Já fizemos. Em horário nobre.
- Gostamos de preto. Já casámos de preto. Porque preto é luto, então é bonito. Isso de usar muitas cores é um bocado gay.
- Ah, mas no Minho o traje é vermelho e há o galo de Barcelos com desenhos garridos... ! Devem ser influências da Galiza, um dia vamos acabar com isso.
- Ah, mas em Miranda os homens usam saias com desenhos garridos...! Devem ser influências dos celtas, um dia também vamos acabar com isso.
- Ao contrário da tourada espanhola, nós não matamos o touro na arena, só o espetamos e mandamo-lo para o matadouro. Já devíamos ter acabado com isso.
- Podemos ser casadas, mães de filhos, mas se tivermos uma carinha laroca seremos sempre meninas.
- A mulher quer-se pequenina como a sardinha. Mas as suecas também são muito apreciadas.
- Nós portuguesas temos fama de sermos feias, mas somos vingativas, portanto temos a situação controlada. Claro que temos.
- Temos noção que quando nos unimos fazemos coisas giras, mas amanhã tratamos disso.
- O que é mesmo, mesmo, mesmo, mesmo bom não é para mostrar. Guarda-se, mete-se debaixo do colchão. Às vezes acontece é que depois vai-se a ver e já se estragou ou já não presta.
- O país é pequeno, mas há rivalidades cá dentro. E sotaques. E gente esquisita.
- O mundo não nos dá o devido valor... Ah! Espera lá! Nós também não!
- Esta é mesmo verdade! Conversa de portugueses acaba sempre em mer... caca! Demore o tempo que demorar, é deixar fluir que vai lá dar!
- O país é um caca. Mas quando estamos fora é a caca mais linda que existe!
Eu sou esta tuga "Coisas grátis! O que um tuga gosta de borlas! Pode não servir para nada, às vezes nem sabemos o que é, mas se é grátis ter isso é uma missão!"
ResponderEliminarNa tua extensa lista faltou a referência ao bacalhau! Festa de tuga que é festa tem de ter "bolinhos de bacalau"
Berta, adorei o texto. Não sou portuguesa, mas já vos conheço muito bem, há 13 anos que aqui fui acolhida, e já começo a me identificar com alguma destas coisas de tugas ;)
ResponderEliminarSão um povo adorável :)
Sim... bacalhau... elementar. :-P
ResponderEliminarIsleiArtes, obrigada! 13 anos já é muito tempo! De certeza que já não temos grandes segredos para si... ;-)
ResponderEliminarBeijinho!